Economistas consultados pelo Estadão Conteúdo ressaltam a necessidade de o governo colaborar com o Banco Central (BC) para controlar a inflação sem aumentar excessivamente a taxa Selic. A política monetária tem como objetivo a estabilidade de preços, não a dívida, e o governo pode ajudar ao adotar medidas fiscais que não exijam aumentos excessivos nos juros. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é um defensor dessa abordagem.
Nos últimos anos, estímulos fiscais seguidos por medidas de crédito ajudaram a sustentar o consumo, comprometendo, assim, a eficácia da política monetária. Isso tem forçado o BC a elevar mais os juros para conter a inflação, o que, por sua vez, impacta negativamente o serviço da dívida pública. Para gerenciar essa questão, o BC realiza operações compromissadas para reduzir a liquidez, o que influencia a dívida pública.
Economistas do BTG Pactual, liderados por Mansueto Almeida, projetam que, com um superávit primário de 2% do PIB, a dívida pública poderia estabilizar em 90% até 2034. Sem poupança para pagar juros, a expectativa é que a dívida continue a crescer, ultrapassando 93% do PIB em 2033. Jeferson Bittencourt, do ASA, reforça que sem um superávit primário, a dívida cresceria rapidamente.
Mario Mesquita, do Itaú Unibanco, sugere que o retorno ao teto de gastos ajudaria a controlar os juros. Armínio Fraga, ex-presidente do BC, propôs congelar o salário mínimo por seis anos para conter gastos. Após o impeachment de Dilma Rousseff, o teto de gastos ajudou a reduzir os juros de 8,37% do PIB em 2015 para menos de 6% em 2018. Contudo, o atual governo descarta essa abordagem devido a limitações orçamentárias.
A continuidade de um gasto público superior à arrecadação por mais três anos, sem medidas estruturais, dificulta a criação de superávits primários. Um ajuste fiscal superior a R$ 300 bilhões seria necessário para conter a dívida. Ainda assim, uma sinalização clara de compromisso com o ajuste fiscal ajudaria a reconquistar a confiança do mercado e reduzir os prêmios de risco.
Pedro Schneider, do Itaú Unibanco, observa que juros menores dependem de um governo que gasta menos. A falta de credibilidade fiscal agrava a situação, tornando necessário um ambiente de confiança para que as taxas de juros caiam.
Felipe Salto, da Warren Investimentos, destaca que a emissão de títulos pós-fixados pelo Tesouro tem ajudado a financiar o governo, mas também pressiona a política monetária, exigindo juros mais altos para equilibrar a demanda. A gestão da dívida pública depende do avanço na agenda de ajuste fiscal, para melhorar prazos e reduzir custos médios, aponta Salto.