O discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na terça-feira, causou repercussão nos mercados globais ao anunciar tarifas recíprocas a partir de 2 de abril para equilibrar as relações comerciais com países como o Brasil. Em resposta, China e Canadá ameaçaram retaliações. O vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, planeja discutir essas tarifas, que incluem uma taxação de 25% sobre o aço e o alumínio, em uma reunião virtual hoje com o Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. A intenção é resolver o impasse por meio de negociações, já que tanto o governo brasileiro quanto o setor acreditam em uma solução diplomática.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), destacou que o Brasil pode ser afetado tanto direta quanto indiretamente pela guerra tarifária entre os EUA e China, dois dos maiores parceiros comerciais do país. Apesar de alguns possíveis ganhos a curto prazo, as incertezas predominam. Para Castro, decisões governamentais devem ser baseadas em análises técnicas e não impulsivas, para evitar um "ano perdido" para investimentos.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, acredita que o Brasil pode fortalecer seus laços comerciais com a China, mas pode perder espaço no comércio com os EUA, já que o país enfrenta um déficit comercial significativo com os norte-americanos. Ele vê oportunidades de expansão na biotecnologia e tecnologia avançada, que podem favorecer o comércio com a China.
As novas tarifas de 25% para importações do Canadá e México, com isenções temporárias para grandes montadoras, decepcionaram observadores, entre eles Paul Ashworth, da Capital Economics. Ele destaca que as tarifas podem desestabilizar a indústria automobilística norte-americana, já que muitas peças cruzam fronteiras várias vezes durante a produção.
Welber Barral, especialista em Comércio Internacional, alertou sobre os efeitos inesperados das tarifas, como o cancelamento de contratos de empresas brasileiras com o México. No entanto, ele vê oportunidades competitivas para o Brasil, que pode explorar lacunas deixadas pelas exportações do Canadá e México para os EUA.
Guilherme Gomes, da BMJ Consultores Associados, acredita que o Brasil pode aumentar suas exportações para os EUA a curto prazo devido à maior competitividade dos produtos brasileiros. No entanto, economistas como Mauro Rochlin, da FGV, alertam que o aumento das tarifas pode encarecer os produtos, reduzindo o consumo internacional e, por consequência, o crescimento econômico global. As previsões sobre os impactos na balança comercial brasileira permanecem incertas, requerendo cautela na avaliação dos desdobramentos das medidas propostas por Trump.