EUA e risco fiscal doméstico podem levar dólar a R$6? Economistas comentam
Investing.com – Ainda que as expectativas de mercado sejam de que a apreciação da moeda americana das últimas semanas perca fôlego e o dólar termine o ano cotado mais baixo do que o patamar atual, alguns economistas não descartam totalmente a possibilidade de que um acirramento das tensões fiscais, em conjunto com a cautela com o cenário americano após as eleições, possa levar o dólar para cerca de R$6.
“Aqui dentro, a resposta às propostas que aparecem no fiscal também vai depender um pouco do humor externo. Se lá fora as incertezas continuarem elevadas, pode ser que só o anúncio não seja o suficiente”, acredita a economista Thais Zara, da LCA.
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A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, vai na mesma linha. “Se você me perguntasse há dois meses, eu diria que não, jamais, isso não vai acontecer, mas hoje eu já não consigo dizer que isso não vai acontecer, porque a gente já está em R$5,80”, completa.
Por outro lado, Vanessa Blum Colloca, diretora da corretora de câmbio Getmoney e colunista do Investing.com Brasil, não acredita que a moeda americana possa romper a barreira psicológica de R$6.
“O mercado se regula e tem muita especulação. Nem era para o dólar bater R$5,80 com o carry trade e nossos juros subindo e nos EUA os juros caindo. Isso já é uma taxa ultra pressionada. O mercado de câmbio vive de expectativas”, ressalta a economista.
Contexto local x cenário externo
O mercado aguarda, neste início de semana, o resultado da reunião do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Haddad cancelou viagem internacional para discutir a situação fiscal, após a escalada do dólar na semana passada.
No contexto doméstico, as incertezas com as contas públicas estão entre os principais drivers para a elevação do prêmio de risco dos ativos como um todo, incluindo da cotação da moeda americana frente ao real, concordam as fontes ouvidas pelo Investing.com.
Mas, além do contexto doméstico, o cenário internacional pesa, e o dólar também subiu ao longo do mês passado frente a outros mercados emergentes. A percepção é de que os dois candidatos à presidência dos Estados Unidos possuem estratégias que podem pressionar o cenário fiscal – e colocar em risco o ritmo de corte de juros estimado para os EUA.
“É a combinação realmente de fatores tanto externos quanto domésticos, eles estão contribuindo mais ou menos metade-metade”, acredita a especialista da LCA.
A economista-chefe da Armor, por sua vez, entende que o cenário externo pesou mais no início do mês passado, com elevação do índice dólar frente a mercados emergentes, de forma geral, enquanto as últimas semanas foram de maior componente doméstico, em seu entendimento.
Banco Central pode intervir no câmbio?
As economistas consultadas pelo Investing.com divergem sobre a possibilidade de o Banco Central intervir no câmbio. Enquanto Zara, da LCA, enxerga probabilidade, ainda que não seja o mais provável, Damico, da Armor, acredita que a comunicação anterior da autoridade monetária indica que não.
Para Zara, uma possível intervenção depende do momento, mas se o BC entender que há disfuncionalidade, pode atuar, mas não se a correção de preço ocorrer por fundamentos, pois a intervenção não adianta.
“Quer dizer, se mexeu com a percepção do mercado, se frustrou o cenário, se houver alguma frustração com o cenário fiscal aqui dentro, ou se tiver uma piora de percepção com o ambiente externo, pode ser que isso seja um movimento mais perene. Então, não adianta muito você intervir. Se o Banco Central perceber que é um movimento de volatilidade diário, um movimento realmente que demande a intervenção, ele pode vir a intervir”, argumenta.
Ao avaliar o cenário atual como o primeiro caso, Damico diz que o BC tende a deixar o câmbio flutuar normalmente. “O Banco Central já disse em outros momentos que ele atua quando tem disfuncionalidade, quando tem uma necessidade pontual de fluxo. Nesse momento, é prêmio de risco, é incerteza fiscal. Então eu acho que eles não vão intervir”, apontou a economista.
Expectativas consensuais indicam queda do dólar
A LCA estima, em um cenário base com anúncio de corte de gastos pelo governo e sem medidas muito fortes de um eventual início de gestão do republicano Donald Trump, um dólar próximo de R$5,20 no ano que vem. Em um cenário mais desafiador, poderia chegar a R$6. A Armor está em calibragem de expectativas.
Economistas consultados pelo Banco Central esperam que o dólar termine o ano de 2024 em R$5,50, enquanto as expectativas para 2025 são de R$5,43 e as de 2026 são de R$5,40, de acordo com o Boletim Focus divulgado hoje. No entanto, todas as projeções foram revisadas para cima desde a última semana.
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