Iene: Julius Baer questiona se fundamentos mudaram; valorização é sustentável?
Investing.com - Fundamentos praticamente inalterados e uma enorme desvantagem nas taxas de juros em relação à economia dos EUA levam os economistas do Julius Baer a questionar se há justificativa para continuidade de alta do iene no restante de 2024. Inclusive, o banco projeta retomada da desvalorização da moeda japonesa no período. É o que consta na análise "Volatilidade, mas fundamentos praticamente inalterados" distribuída a clientes nesta quarta-feira (7).
O iene valorizou mais de 10% ante o dólar (USD/JPY) desde meados de julho, mas a política monetária japonesa prossegue ultrafrouxa, mantendo o diferencial de juros favorável para o dólar mesmo sob a expectativa de início de afrouxamento monetário pelo Federal Reserve (Fed) nos EUA. "Isso deve ser suficiente para tranquilizar os investidores de que o iene continua sendo uma moeda atraente de financiamento de carry trade", diz o relatório assinado por David Alexander Meier.
O Julius Baer não projeta, inclusive, aceleração no corte de juros pelo Fed até o fim do ano. "Esperamos que o diferencial de juros de -475bps em relação ao dólar permaneça até o fim deste ano, o que deve tranquilizar os investidores", projeta o banco.
Contexto da valorização do iene
A antecipação de um Banco Central do Japão (BoJ, na sigla em inglês) mais agressivo na política monetária, confirmada com uma alta inesperada de 25 pontos-base na taxa de juros em 31 de julho, reverteu uma desvalorização de 2 anos e meio do iene. O enfraquecimento da moeda japonesa nesse período ocorreu devido à divergência de política monetária entre o BoJ e o Fed, quando o Banco Central japonês conduziu uma política ultra agressiva, inclusive com intervenção na curva de juros com compra de títulos públicos, enquanto o Fed elevava as taxas de juros e diminuía o tamanho de seu balanço vendendo seus títulos públicos e hipotecários no mercado.
Outros dois fatores contribuíram para os touros da moeda japonesa, segundo o Julius Baer. O iene ainda guarda características de um porto-seguro, ou seja, é um ativo financeiro buscado por investidores, especialmente os asiáticos, durante períodos de aversão a risco como o que ocorreu semana passada em meio às preocupações em relação à economia dos EUA entrar em recessão após dados fracos do mercado de trabalho. Além disso, a realização da cobertura de posições vendidas em iene adicionou mais pressão e retroalimentou a alta da moeda.
"Quando a poeira abaixar, os investidores vão perceber que, nos fundamentos, houve poucas mudanças", avalia o banco. "A inflação parece estar sob controle e o crescimento estagnado, sugerindo apenas pouco aperto no futuro".
Além disso, o banco ressalta a permanência de uma política monetária ultrafrouxa com um aperto sendo conduzido com precaução. Hoje, inclusive, o vice-presidente do Banco do Japão, Shinichi Uchida, disse que o BoJ não vai aumentar as taxas de juros enquanto os mercados estiverem instáveis. "Investidores interpretaram a declaração como um sinal de manutenção da taxa por algum tempo", aponta o Julius Baer em outro relatório, acrescentando que os mercados projetam nova alta de juros no Japão apenas em março do ano que vem.
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